Um dos maiores estudiosos do crime organizado no país, o sociólogo Gabriel Feltran avalia que a principal forma de influência das facções criminosas na política brasileira hoje não é pela infiltração de candidatos na corrida eleitoral, mas pelo uso de influência para obter vantagens econômicas.
'As pessoas pensam que há uma infiltração do PCC na política.
"São poucas as pessoas que entendem o que está acontecendo. A grande maioria faz esse tipo de raciocínio, que é o raciocínio da Lava Jato", diz o pesquisador, fazendo um paralelo com a operação da Polícia Federal que investigou esquema de corrupção na Petrobras. Trata-se basicamente da influência de empresários sobre políticos. Empresários dos mercados legais e ilegais usam sua influência, fazem pressão, fazem acordos com políticos que podem favorecê-los economicamente, sobretudo.Então, na minha leitura, não é porque os caras são criminosos e estão se infiltrando na política.
Então é por aí que esse negócio acontece. Não é porque o cara é criminoso, é porque o cara é empresário.- Os empresários autônomos têm os seus contatos, mas, falando do PCC especificamente, tem um segundo ponto. No PCC, existem coordenações para favorecer esses negócios para os empresários, que são as chamadas sintonias.
E a estratégia da facção também pode precisar de políticos – ter acesso a um político importante que tenha entrada no, que conheça o presidente do sindicato. Que depois pode ser alguém com quem se possa ter uma conversa para fazer um esquema de corrupção que facilite para todos os empreendedores do PCC que fazem negócio lá.
Aí, dessa conta, sai dinheiro para financiar uma candidatura. Então eles consideram que essa conta – que tem milhões que passaram por ela, de centenas de operadores – é operada por aquela pessoa, que é dona daquele dinheiro e que, portanto, é um banco do PCC que vai financiar candidaturas. Errado, simplesmente.
Agora, voltando ao ponto de 2020. O que eu estava dizendo ali, e mantenho, é o seguinte. O Comando Vermelho tinha uma estratégia parecida com a das milícias, que é: eu domino um território e tudo o que acontece nesse território, sobre o qual sou soberano, me deve imposto, uma taxa de extorsão. O que eu estava dizendo em 2020 é que não era nem uma, nem outra, e que era muito mais poderosa do que essas duas, na minha leitura.
Esses caras ocuparam uma parcela significativa da burocracia, eles controlam um monte de relações burocráticas dentro do Estado, mas eles controlam também muito o recurso na periferia com extorsão. Então, veja, eu tenho empresas de ônibus. Maravilhoso. Agora, a minha empresa de ônibus vai ter mais lucro se eu injetar dinheiro da cocaína nela.Quem vai lá ver se tem ou não? E eu falo que essas 300 pagaram R$ 1 mil por dia para participar de evento no hotel. Então aquelas 300 viram R$ 300 mil. Eu tinha R$ 300 mil em caixa de tráfico de drogas, de repente eu tenho R$ 300 mil de um evento. O dinheiro está lavado.
Qual era a cadeia de comando em São Paulo? Tem a elite, depois tem o governante ligado àquela elite, depois tem a polícia controlada por esse governante, depois tem o justiceiro controlado pela polícia.O modelo clássico é o coronelismo: tem o coronel, que controla o seu jagunço. E o jagunço controla o escravo, o trabalhador. O coronel não precisa fazer esse controle.
Que faziam essa jagunçagem – esse espectro da segurança local, extra legal, impactado diretamente. E as facções começam a tomar esses espaços. BBC News Brasil - E, nesse sentido, aquela mesma forma de influência na política que esses grupos têm no Sudeste deve se replicar no Norte e Nordeste?- Eu avalio que é ainda mais fácil. Porque, no Sudeste, desde os anos 1950, foi construída uma espécie de intermediação burocrática entre o poder violento e a tomada de decisão estatal.
Hoje quem define quem vive ou morre é facção e milícia. Como o Estado pode mudar isso? Esclarecendo homicídio. Esse é um ponto central para qualquer política de segurança do mundo.
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